Os sinos da igreja a badalarem 11:30 a se moverem , devagar e Novembro nos vidros , o café em frente a loja de gangas, o café com o mundo dentro, todos os dias ali paro . Todos os dias vejo a senhora triste, com a cruz de prata na mão enquanto sopra o chá e o sopro leva para a Dona Ofélia um sorriso escondido de uma senhora, idosa, pele enrodilhada, embrulhada na tristeza e na resignação, olhos com mãos que puxam os sorrisos enquanto o chá emana pequenas orações que sibilam dos lábios da senhora que trata daquela a quem tanto procura
- Vai ver que tudo se trata tudo se vai pôr bem
O medo de morrer, o medo de ir. A tosse que não me deixava, o susto do cigarro, o susto que eu sentia quando a dor me subia e me fechava a traqueia, e eu, assustado,devorado pelos estores no escuro, os lençõis que me vestiam como se eu fosse as cortinas metidas, sem dormir,a senhora do terço, a senhora da cruz
- cancro
E só o medo de pensar me causava desespero. Via-me enterrado , ali, já viste, mãe, eu no caixão ?! meu deus! E o coveiro, o sacana, a vir a minha mesa , isto é verdade, mãe, a vir a minha mesa
- já recebes-te?
Os meus olhos saltavam! Saíam como pedras lançadas de uma fisga
- hâ?
A Graça da cozinha a exclamar
- essa tosse
Eu na cama
- vou morrer
Fora dela e depois dela a falar com todos e a pensar
- quantos destes virão ao meu funeral?
O meu patrão a passar por mim , sempre calmo, descontraído e sério
- virá ele ao meu funeral?
E o caixão bem arranjado, será que iriam chorar por mim? uma pequena multidão, de luto, a minha roda , olhando feito abutres
- Pobre rapaz…também teve cá uma sina
E nisto, o patrão ao fundo , o coveiro a largar a mesa do café onde eu estava e eu a ver nele a pá a deitar terra e mais terra e a pedra da fisga a ir com mais velocidade e mais velocidade comigo na cama a pedir perdão e saber que posso morrer sofrendo com as agressões do cigarro e a pedra a ir com mais força, e a cruz de prata a balançar de um lado ao outro, os lençõis, cortinas onde os estores me apertam
- cancro
Não Não a perder a fala , a ter dificuldades para respirar, a ter dificuldades para emitir qualquer espécie de som, deixava de viver, deixava de namorar, apavorava-me isso! a pedra a embater na árvore e abrir um buraco , uma esfera, pequena, escura, os meus olhos feitos rato a espreitarem lá para dentro, a lembrar-me nesse momento quando perdi o dente da frente, deitado na cama a chorar em desespero que as raparigas nunca mais me vão olhar, nunca mais vão olhar para mim e apertava com mais força o choro no quarto da minha mãe e o Jorge , o cliente que atendo na companhia em silêncio ele
- ainda falas ?
E eu a pensar mas afinal
- ainda falas
A mexer os papeis no balcão e
- ainda falas
E pedra que me levava ver-me como o meu avõ sofreu até a última, morreu com o cigarro na boca, o cigarro queimou-lhe os pulmões, dilacerou-os por completo ,abriu crateras, sofreu…e eu ver-me assim ! todos no meu funeral, até o coveiro, e eu, onde?
- já recebeu?
E a Graça da cozinha sem graça nenhuma a dizer-me
- O coveiro veio-te buscar
- hÂ?
E a pedra já não estava comigo na cama já me acompanhava até ao café da vila nisto olhava para as pessoas a pensar Vou morrer olhavam para mim em silêncio
- Vai morrer
E a tosse cuspir-me a dignidade na cama que não é minha , nos lençõis que não são meus, nos estores que não são meus, na almofada que não é minha, a cuspir-me até ser jogado para a frente do médico enquanto a cruz de prata balançava na mão da
- Cancro
o jornal ao lado da secretária do consultório com a língua de fora dobrada Em paz e eu sentado depois de ter sido observado com as mãos fechadas uma sob a outra o médico
- Isso passa
e enquanto as orações sibilavam do chá, os sinos anunciavam as 12 badaladas e a da pele enrugada num silêncio que tremelicava nas bochechas como se bebericassem pequenos nervos semelhantes as gotículas das lágrimas que a gente deita quando reclama através do choro aquilo que nunca se teve e que se encontra agora a nadar no vazio dos seus olhos negros onde uma mão lhe passa pelos cabelos brancos ainda tratados e o rosto que se desvia , carinhosamente os olhos se deitam, se aninham no olhar da sua amiga que sorri sem ali estar presente nela
- Vai ver que tudo se trata tudo se vai pôr bem
Aí os sustos! eu no limoeiro apanhar as cascas para a infusão, eu no sobreiro com um saco aberto , a meio da noite, os outros escondidos, eu a girar , a girar nas mantas, nos lençõis, a girar , a girar o saco aberto para apanhar a criatura e desejar não quero morrer
- Cambuzinos ao saco !
e a voz dentro de mim que me apertava em silêncio , a voz que me assustava dentro de mim e ao mesmo tempo sai disparada de detrás do sobreiro e me joga fora como uma mola direito ao chão! saio a correr... a chorar , pelas pedras partidas da telha no chão, a passar as bananeiras em prantos , a limpar as lágrimas na minha corrida , apavorado, com o sobreiro atrás a dizer
- Então
e num segundo tinha-o deixado para trás juntamente com a horta do meu tio juntamente com a noite e juntamente com os meus amigos que agora me surgiam quando me julgava sozinho e me rodeavam e me abraçavam já sob a luz do candeeiro
- isso passa
O médico
- Vá, fique bem
Novembro nos vidros , o café em frente a loja de gangas, o café com o mundo dentro, a senhora do terço
- afinal não era nada
O coveiro a largar uma mesa onde um rapaz de olhos arrepiados o olhava
- o diploma, do curso!
A senhora do terço num espelho a dizer-me
- não passa de um sonho uma ilusão perfeita
os pombos sozinhos na praça, uma revista perdida, um assobio do vento, um pedaço de frio nas pálpebras e
- não passa de um sonho uma ilusão perfeita
Os sinos da Igreja a chegarem as doze badaladas e eu acordar
- Será que sonhei?
http://leading.blogspot.com/
sábado, 28 de maio de 2016
sexta-feira, 29 de março de 2013
Como Arrumar a casa
Como arrumar a casa
A cómoda em madeira desgastada guarda todos os meus ursinhos, o Pico, Fuuffu,o Bolinha, sorriem para mim e são os meus amigos nas camisolas que a mãe arrumou;
- Santo anjo do Senhor, santo anjo da guarda,vele por mim de dia e de noite
foi bordado com pequenas linhas azuis e enfeita o quarto que o Pai António fez, a prima Rosa,deu de presente o candeeiro com a cor do seu nome, o anjo da guarda,também tem uma cor no quadro,a mãe , trouxe os amigos da almofada que respiram comigo o doce das cortinas brancas, suaves como quando estou nos braços do pai António
- braçinhos quentinhos e fofinhos
Arruma as coisas com uma prontidão imediata, coloca na cesta os ovos da tia Rosa,na sala, o sofá é limpo em todos os pormenores, um canto com um papel da loja do Senhor Janeca:
- Celebremos na Páscoa o Perdão
O pai diz que o perdão faz crescer as pessoas e que uma casa arrumada são as Ideias colocadas em ordem.Tudo o que eu me lembro é que era um bébé sempre muito sereno e muito sorridente,nunca me pareceu outra coisa que senão isso,eles andavam felizes, a dispensa pelo que me recordo:
- existo na ordem de uma medida correta
começa com os frascos de um arroz em Inglês Rice, os temperos da cozinha Oriental todos alinhados como um platão
-As grandes naturezas produzem grandes vícios, assim como grandes virtudes.
E a grande virtude tornada pequena num frasco de especiarias, os taparués, empilhados mas numa simetria reveladora de sua Mestria, Fazendo as pequenas coisas bem, faremos acontecer as grandes coisas, dizia o avô enquanto construía o primeiro andar da casa e o padre a abençoar o pirralho enquanto os óculos detinham as passagens
- a fé, deve ser revelada nas obras
O pai diz que eu devo crescer,que se eu crescer , também poderei mostrar ao Senhor Jesus o meu amor por ele,gosto imenso deste cheiro dos livros arrumados na biblioteca da casa,quando for grande como o meu Pai António,vou colecionar canetas carissimas,colocar os meus peluches no escritorio e ao lado dos livros de Matémática a fazerem companhia aos da Literatura poética. Vou estudar,colecionar ferramentas ,chaves de fendas,martelos e esquadros,vou resolver os problemas quando a sanita avariar,trocar as pilhas ao comando da campainha,quando a minha Mulher quiser vou às compras no jipe e levo o farrusco,aquele narizinho pretinho e molhadinho é tão fofinho,fofinho fofinho foifnho!!!
Diz a mãe afagando-o em miminhos enqunto brinca com as suas ferramentas de plástico,coloca-o no berço,lê uma passagem do Evangelho e o pirralho adormece,desce as escadas e acaba de limpar a coleção de chávenas de café,passa pelas moedas de ouro que estão na sala ao lado de convivio,todos os prémios ganhos em desporto,
- sempre gostou muito de competir
coloca a ultima taça ganha ao lado do Melhor Pai do Mundo,
- Bom marido, Lucrécia
e a Lucrécia a interregar o Bom pastor
- o que pedis de mim bom Pai?
A arrumação perfeita,a sala dos troféus é cuidada todos os dias,a sala,disposta com as cortinas a cantarem salmos de louvor e gratidão,a estande e os diplomas cumprimentam a lareira, lume do qual ganhou pastor, louvando versos nas douradas pontas flamejantes
-O Senhor é o meu pastor, nada me faltará
E os anjos a serem retirados do móvel para o chá, a loiça fina com os fios laranja do irmão sol no rebordo a aquecerem os lábios da Tia rosa e do avô Francisco, alguns bolinhos dispostos pela mesa com o pão e a linguiça,o avô Francisco a escrever um versosito e a entregar um medalhão ao menino que dorme,o senhor Padre diz que Devemos crescer e não minguar,Uma casa arrumada, ideias no lugar, a procissão vai até à cozinha e os tachos apertados entre si
- que altura danada esta para sermos tachos de aluminio
os alhos e as cebolas na porta debaixo,a máquina do café aquecer e a procissão
- Vinde Senhor Jesus
e jesus Nosso Senhor na sala a conversar com os diplomas e com o fogo, enquanto a loiça a sair da máquina e os bolos a serem preparados,as toalhas arrumadas por ordem: as da sala numa gaveta,as da cozinha noutra, os napperons com Francisco e Jacinta
- vimos agora para aqui fazer não sei bem o quê
a vela acesa proclama a fé do napperon e o chá quente da sala a entreter-se nas entranhas,a tia ao fundo, corta uma fatia de pão repara que tudo ocupa uma ordem perfeita na mesa,o salmo na ponta da chama
- Onde há amor existe a ordem
Diz o Bom pastor à Senhora Lucrécia que vai contente para casa depois de ter saído da fonte por onde os milagres se fazem e as pedras se tornam castelos
- onde há amor existe a ordem
come um pouco de pão e bebe um pouco de leite eleito: a melhor Vaca do Ano! Pelo que sei era uma Senhora dedicada,religiosa,boa profissional,o bébé,está a ainda a crescer, um dia,um dia... há-te mostrar as obras que tiver a mostrar,por enquanto, Jesus, pede que arrumemos a sala,coloquemos cada coisa no lugar
- Não vá o Diabo Têce-las e cairmos do Cavalo
diz o Padre da Casa, arrumemos as flores nos vasos e lhes dê de beber, as mantas dobre-as
- se não as dobrar-mos poderemos atrair coisas más
coloque a roupa suja para lavar que Deus não aprecia os maus cheiros,arranje os estores que está para arranjar,arrume o quarto,as camisas no camiseiro,as calças na gaveta, gravatas: sejam sãs, tire-as do plástico;guarde as roupas de verão, use as de inverno,seja limpo, não pelo muito que limpa mas pelo pouco que suja,arrume a garagem,não aconteça quando o Senhor chegar, encontrar peúgas e boxeres por aí e o fogo a querer se chatear!
terça-feira, 26 de março de 2013
Como Fazer a Barba
Lembro-me quando tinha 10 anos. O primeiro pêlo. Passava
horas durante a tarde a olhar para o espelho do ciclomotor do meu pai Afonso.
Numa noite, uns larápios lá vindos de Grândola,roubaram a motorizada de 4 velocidades
de cor doirada ao meu pai, o meu irmão tinha saído de madrugada, a televisão ligada,os grilos num canto de um móvel com uma fotografia
familiar,enchi-me de pena quando soube da noticia da minha mãe ter fugido com
outro,nunca vi o meu pai chorar. Acordava durante as noites e dava com ele na sala,
Fumava um cigarro com a ponta direccionada para mim enquanto as frases
encorpadas de uma personalidade exterior a ele :
- roubaram-ma
E reclamava ,exigia ao tempo ,a Deus, aos anjos e
a quem mais haja por aí, lá que me
dessem o que é meu,pêlos…assim já podia ajudar o meu pai e eu podia ser Homem e
tentar perceber as coisas que ocorriam, já suportava andar pela aldeia tendo
perdido aquela motorizada, já podia de peito inchado e erguido ,porque a barba me
concluía, já podia, saber o que era a
vida no sentido das palavras da Sra. Silvina lá da aldeia:
- quando tiveres barba na cara filho…
Corria para a casa de banho. Trancava-me a sete
chaves. Pegava na Gillette, na espuma de Barbear,molhava o rosto pueril e
moreno,os olhos verdes enfiados no espelho,o fio de um castanho cor de fogo,um
sorriso inocente e ansioso pelos anos vindouros; ao lado, um creme hidratante
para amaciar e amolecer os pêlos ( ausentes ainda)para facilitarem o
deslizamento da lãmina,olhava para os hidrantes do meu pai
- Vou ser Homem
Consultava um livro, sabia que a melhor hora para
a desfazer ( e como me imaginava com uma barba perfeita) seria à noite, a
oleosidade da pele que é já em maior quantidade ajudar-me-ia ,ouvia os amigos
mais velhos a dizerem entre si nos treinos de futebol:
- primeiro molhas o rosto com a água quente para
abrir os poros
A minha ãnsia aumentava! E fazia ,mesmo não tendo
pêlos, tudo na forma correta: a lâmina no sentido do crescimento do pêlo,
os cremes tudo da Natura
- os melhores
E passava
os meus dias em busca do tal pêlo grosso mas nada . Passava uma e duas e três e
quatro,de seguida, pegava no bálsamo e colocava em abundância. Ardia e não
acreditava quando me lembrava:
-roubaram-ma..!
A minha mãe pegava em mim de manhã e saíamos pelas
traseiras da casa.Eu não julgava a minha mãe
( mas não entendia porque razão tinha que ir ter
com o amigo à beira da estrada )
o que eu sei é que aquilo era desconhecido para o meu
pai que não tinha barba na cara,apenas um ligeiro capim branco. Anos mais tarde
dei com ele a olhar para o espelho e numa voz curva a reivindicar ,reclamava,exigia
ao tempo ,a Deus, aos anjos e a quem mais de direito lá de cima que lhe dessem o que era pertença
sua,( eu pensava para mim que devia ser falta de barba na cara) se eu ao menos…
nessa altura os pêlos tivessem aparecido quando eu suplicava
- só um pêlito…
Podia ter ajudado um pouco mais , a motorizada roubada
foi encontrada no mato,Deixa o resto, junto
aos policias ele dizia:
- era minha
Enquanto a personalidade exterior dele pegava em
mim e me vestia com a dor ali a bramir
- ela era minha…
A dor rendia-me,braços ao ar!!? Perguntava: o que devia fazer? A casa estava perdida.
A casa era pequenina Sr.Doutor,janelas pirralhas
de onde à noite sons me deixavam constrangido e os sons me diziam:
- que vergonha isto
E que vergonha um Homem não ter barba na cara, que
vergonha nem um pêlito para uma pessoa erguer o peito em importância, dinheiro
nunca houve, não me lembro, recordo mais o que me faltava do que aquilo que
tive,as janelas que não eram grandes , pequeninas e cheias de cor diferentes
das da sala,o cão piegas sem uma coleira decente,o meu pai constantemente
entrava no quarto a perguntar:
- a vossa mãe?
Eu não dizia nada.
Calava e morria naquele crime. Imaginem o que é uma criança passar por
isso, os sons apareciam assim que ele fechava a porta e não eram só as janelas
que eram pirralhas e barulhentas também, o móvel da casa do meu tio em Lisboa
na Quinta da Taínha, quando a minha tia o via de bigode molhado pelo vinho a
cantar o fado no meio da sala, elas, idênticamente desinquietas a proferirem
como se tivessem um cinto nas partes:
- que vergonha isto
O pai ainda não ganhou barba na cara e todos os
dias olha para o espelho num constante monólogo:
- Ela era minha
o filho,
ganhou uns tostões no loto2,cresceu, adquiriu barba comprida, de desfazer ,todos os dias ,
de manhã à noite, o tio, foi visto a
correr ao lado dos comboios na linha do Cais de Sodré na tentativa de ser
pássaro e da motorizada sabemos que não ficou resto algum para contar história.
quarta-feira, 4 de maio de 2011
Aprender a imitar a água
Um dia, quando as pedras deixarem de ser pedras, quando os barulhos da água deixarem de soar no pássaro poisado sob o galho cuja verga é a folha do meu rosto , um dia , quando os homens forem um só instante e num só segundo eu me tornar rio, para desaguar na existência da liberdade e desaguar na sede do teu amor, sem ritos e proclamações , eu serei um breve momento de um voo de pássaro , na ponta do bico, as minhas letras, as minhas vidas , as minhas vozes, os meus papéis e o silêncio exterior . Minto. Minto quando digo que amo o silêncio, não gozo, prefiro o barulho ao retrato de uma menina de vermelho que passa na rua em sacola de renda e ela não leva o silêncio mas o barulho das solas na calçada Tac Tac , vejo o pobre velho Antunes, debaixo do umbral da varanda , com aqueles olhos caindo sobre nós , interrogando, olhos com mãos que nos abrem as profundezas , entra dentro de nós sem quase pedir permissão, mas pedindo… e não nos é inegável dito previlégio, vê-lo ali , com pequenos pedaços de pão na mão, as metades de uma vida inteira no polegar e na ponta do indicador , em pedacinhos minúsculos que rolam até alçar a calçada e oiço-o a pensar sem ser eu quem aqui está «Um dia, quando as pedras deixarem de ser pedras » E lembro-me do meu velho amigo Jorge de Sena , a mesa , as cadeiras velhas , como um homem mata saudades numa cadeira e ama invísivel sempre presente vida, eu lembro-me de me dizeres , sem nunca me entediares, que a escrita podia ser « o reverso glorioso dos erros» os meus olhos procuravam-te achando-te no escuro ausente de luz , nas tuas unhas ainda rosadas pela juventude, lembro-me do Antunes, se calhar, se calhar ele devia estar aqui em vez de estar com aqueles parvos pássaros, deixa-o, cai o livro da prateleira e com isto toca-te o pensamento que me acompanhava na minha deambulação « Um dia, Marcio, iremos amar como uma pedra» Talvez. Não sei, nunca tinha pensado muito nisso, tenho medo as vezes de pensar, as vezes nem penso, apenas sinto percebendo e não comprendo porque percebendo temos que dizer que comprendemos , as pedras não pensam, as ribeiras não falam, os pássaros não levam a porra de vida nenhuma no bico, os animais nos ignoram, embargando no silêncio que eu detesto, a água da ribeira , dos cheiros dos sustos das malditas cobras que aparecem num segundo e noutro fogem, esquece. Deito os papéis para o lado, rasgo a caneta , não rasgo, é apenas a forma para dizer como me sinto , a caneta, para o lado, o Sena observa-me na minha santa impaciência e nem um pio me diz. Atesta-me o pássaro que resolve aparecer e poisar ao lado da janela. Mais calmo agora. Que cor dou ao pássaro? Pergunto. Que se dane, que te danes pássaro, ficas rojo , ou rosa, ou vermelho, porque razão vou fazer de ti Preto? Não quero aqui nenhum pássaro preto, quero um amarelo, bonito, com penas compridas e linhas traçadas de um porta-penas nas suas plumas lindas, quero que ele cante, saltite de galhinho em galhinho , não o quero dentro da gaiola, não o quero ver morto, quero vê-lo a desenhar circunferências no céu, entrar sobre ele e quero vê-lo a ouvir Tracy Chpman, quero uma tartaruga que desenhe um círculo na pequena água côncova da ribeira quero ser pedra e aprender a imitar a água.
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
Conserve-se e reduza-se à sua insignificância ( peço-lhe que não me agrida nas trombas, escolha o joelho; estômago, também não. Cólicas terríveis)
Atenciosamente :Lorde Roberto
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
Manuscrito encontrado na Igreja de S. Paulo
DESIDERATA – Do Latim Desideratu: Aquilo que se deseja, aspiração.
Siga placidamente por entre o ruído e a prece e lembre-se da paz que pode haver no silêncio.
Mantenha boas relações com todas as pessoas que possível, mas sem abdicar da sua personalidade.
Fale a sua verdade clara e serenamente; e ouça os demais, mesmo os tolos e os ignorantes que, também eles têm a sua história.
EVITE AS PESSOAS AGRESSIVAS E GRITANTES, QUE SÃO UM PESO PARA O ESPÍRITO.
Se você se comparar com os outros, você tornar-se-á presunçoso ou deprimido pois sempre existiram pessoas melhores ou piores do que você.
Vibre com as suas realizações e também com os seus planos.
Tenha interesse na sua profissão não importa quão humilde: ela é um património concreto sensível às mudanças de fortuna que o tempo traz.
Seja cauteloso nos seus negócios, pois o mundo está cheio de malícia.
Seja você mesmo. PRINCIPALMENTE NÃO SEJA FINGIDO EM MATÉRIA DE AFEIÇÃO.
Nem seja cínico em relação ao amor, pois mesmo em face de toda a aridez e todo o desencontro ele é eterno como a vida.
Acumule vontade com o passar dos anos despindo-se com serenidade das coisas da juventude.
Acumule fortaleza de espírito para defender-se das infelicidades súbitas mas não se desgaste com frutos da imaginação.
Muitos temores nascem da solidão e do cansaço.
Além de uma disciplina integral seja gentil com você mesmo.
Você é um filho do Universo, como as árvores ou as estrelas, é um direito seu estar aqui, e pareça-lhe ou não evidente, o Universo, sem nenhuma dúvida, está evoluindo conforme deveria.
Portanto, esteja em paz com Deus, quaisquer que sejam os seus trabalhos e aspirações, mantenha-se em paz com a sua alma, em meio ao tumulto da vida.
Com toda a falsidade, tédio e sonhos despedaçados, ainda assim o mundo é belo.
Seja cuidadoso. Procure ser feliz.
Manuscrito encontrado na velha igreja de São Paulo em Beltimore, datado de 1692.
Siga placidamente por entre o ruído e a prece e lembre-se da paz que pode haver no silêncio.
Mantenha boas relações com todas as pessoas que possível, mas sem abdicar da sua personalidade.
Fale a sua verdade clara e serenamente; e ouça os demais, mesmo os tolos e os ignorantes que, também eles têm a sua história.
EVITE AS PESSOAS AGRESSIVAS E GRITANTES, QUE SÃO UM PESO PARA O ESPÍRITO.
Se você se comparar com os outros, você tornar-se-á presunçoso ou deprimido pois sempre existiram pessoas melhores ou piores do que você.
Vibre com as suas realizações e também com os seus planos.
Tenha interesse na sua profissão não importa quão humilde: ela é um património concreto sensível às mudanças de fortuna que o tempo traz.
Seja cauteloso nos seus negócios, pois o mundo está cheio de malícia.
Seja você mesmo. PRINCIPALMENTE NÃO SEJA FINGIDO EM MATÉRIA DE AFEIÇÃO.
Nem seja cínico em relação ao amor, pois mesmo em face de toda a aridez e todo o desencontro ele é eterno como a vida.
Acumule vontade com o passar dos anos despindo-se com serenidade das coisas da juventude.
Acumule fortaleza de espírito para defender-se das infelicidades súbitas mas não se desgaste com frutos da imaginação.
Muitos temores nascem da solidão e do cansaço.
Além de uma disciplina integral seja gentil com você mesmo.
Você é um filho do Universo, como as árvores ou as estrelas, é um direito seu estar aqui, e pareça-lhe ou não evidente, o Universo, sem nenhuma dúvida, está evoluindo conforme deveria.
Portanto, esteja em paz com Deus, quaisquer que sejam os seus trabalhos e aspirações, mantenha-se em paz com a sua alma, em meio ao tumulto da vida.
Com toda a falsidade, tédio e sonhos despedaçados, ainda assim o mundo é belo.
Seja cuidadoso. Procure ser feliz.
Manuscrito encontrado na velha igreja de São Paulo em Beltimore, datado de 1692.
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